terça-feira, 8 de novembro de 2011

A insaciabilidade da alma pelo desejo e o sentimento de angústia (Por Taynã Bonifácio)



O desejo é o que nos move, o desejo é que nos faz agir (muitas vezes sem pensar), o desejo é o que dá movimento a vida. Quantas vezes não ouvimos afirmações como essas? E elas realmente carregam parte da verdade, mas devemos ter cuidado.

Sócrates dizia que para viver uma boa vida era preciso abrir mão da busca de satisfação dos apetites. Para ele, a satisfação dos desejos é entendida como escravidão. O budismo também traz esse conceito na sua filosofia.

O desejo surge sempre do sentimento de falta, pelo que não temos, pelo que não somos. Então, devemos ter cuidado na forma como lidar com nossos desejos. O problema é quando o desejo vira obsessão. Hoje, somos bombardeados por mensagens que nos fazem sempre encontrar um novo desejo, sempre precisamos de algo a mais (carro mais potente, um novo cargo, uma casa maior, etc...), nunca estamos satisfeitos.

Uma outra característica valorizada na sociedade atual é o conceito de meta. Ele é ainda mais forte no ambiente corporativo. Precisamos ter uma meta, ou melhor, várias metas, uma de curto prazo, outra de médio e outra de longo. Até aí tudo bem...As metas ajudam-nos a traçar um horizonte e busca-lo. Novamente, o problema é quando a meta se torna obsessão. Ou seja, a pessoa fica tão engajada naquela meta que só enxerga aquilo e faz tudo em torno disso. Sua visão fica totalmente comprometida com essa meta, enxerga apenas “um palmo” a frente.  Assim, ela não vive o presente, está sempre a espera de um acontecimento futuro, de uma vida projetada no futuro. Acha que será feliz, que será realizada no futuro. Fica focada na falta e não no que já conseguiu. Nesse contexto, ao invés de desenvolver a gratidão, vive com um sentimento de angústia.

E no pior dos casos, as pessoas deixam que suas vidas sejam governadas apenas por metas. Colocam uma meta, buscam-a e ao encontra-la não vivenciam aquilo, já colocam em mente uma nova meta. Parece que há um medo em não ter meta, em não ter claro o próximo passo. Novamente, acho válido e importante termos metas, mas precisamos ter controle sobre elas e não deixar que elas nos controlem.

Nesse contexto, acredito em algo valorizado por muitos filósofos e pela própria regra de São Bento: a moderação. Johann Goethe dizia que é da moderação que nasce a maior das virtudes. Existe a famosa doutrina aristotélica do meio-termo, que nos aconselha a calibrar nosso comportamento entre os extremos. Epicuro também falava da felicidade gerada pela imperturbabilidade da alma (ataraxia). É a felicidade da justa-medida e não dos excessos.  Sabemos que não há receita para a felicidade e que cada um deve encontrar o seu caminho, mas podemos dizer que a moderação é uma ferramenta útil nesse sentido.

A onda de movimentos sabáticos é algo evidente em uma sociedade de excessos.  Sabático (hebraico shabbath) é um período para parar e refletir, pensar, descansar, curtir, olhar as coisas sob outra perspectiva e dimensão.  Avaliar o que sou e o que eu posso ser, criar uma nova condição para o equilíbrio mental, físico e espiritual.  Revisão da alma, oxigenação. Coragem para perceber o novo. Então, o que acontece é que muitos executivos passam grande parte do tempo em suas rotinas exaustivas, com reuniões, viagens, metas, feedback, dentre outras atividades, e quando a alma já está sufocada, não tem espaço para respirar, eles resolvem fazer um sabático. E assim, vivem na realidade dos extremos. Seria muito mais saudável viver com a moderação e equilibrar cada dia de sua vida com momentos de atividades intensas e pausas de contemplação.

Nossa alma, não é apenas um recipiente de metas e desejos. Se usarmos ela apenas para isso, viveremos na superficialidade. Nossa alma é a essência do nosso ser e se chegarmos ao centro dela encontraremos uma nova fonte, a verdadeira fonte da vida. Nesse caminho, a meditação pode nos ajudar a chegar nesse centro. Mas, não só ela, cada um deve encontrar o seu caminho.