A cada dia que passa e me aprofundo no conhecimento da
Regra, fico espantada como São Bento tinha uma grande sabedoria e conseguiu
transmitir ensinamentos fundamentais para a vida contemplativa com extrema
simplicidade.
Escrever
sobre estabilidade, fez com que eu tivesse consciência da minha fraqueza. Como
é importante manter as duas meditações diárias e a leitura de textos sagrados
com a disciplina da estabilidade. Caso contrário, a mente se distrai facilmente
com as distrações e meu coração fica pesado com as preocupações da vida.
A
estabilidade adquire uma importância fundamental em um mundo de extremos. Ela
me ajuda a viver no deserto e na multidão. Como chegar a Deus se não estiver
enraizada em meu centro? E como chegar ao centro vivendo nos extremos? A
estabilidade é o caminho da moderação.
A
estabilidade gera profundidade em um mundo com múltiplas escolhas que estimula
a superficialidade. Sem a estabilidade vivemos fragmentados. E como dizia o arcebispo Michael Ramsey: “Jesus todo inteiro exige o homem todo
inteiro.”
Mas sem
dúvida nenhuma, o ensinamento mais importante desse preceito é que ela me fez
descobrir que por meio de um coração estável posso perceber a presença de Deus
em todos os lugares. Não é preciso estar na igreja, no mosteiro ou em outro
local sagrado. A estabilidade faz com
que a alma fique mais leve para perceber Deus em todos os eventos.
Como
Anthony Bloom brilhantemente disse:
“O que é a estabilidade?
Parece-me que se pode descrevê-la assim: vocês encontrarão a estabilidade
quando descobrirem que Deus está em toda parte, que não há necessidade de
procura-lo em outro lugar, que Ele está aqui e se vocês não conseguirem
encontra-lo aqui é inútil procura-lo em outro lugar, porque não é Ele que está
ausente, somos nós...É importante reconhecer que é inútil procurar Deus em
outro lugar. Se vocês não o encontrarem aqui, não encontrarão em parte alguma.
É importante, porque só quando vocês compreenderem isso é que poderão descobrir
em si mesmos a plenitude do Reino de Deus em toda a sua riqueza; Deus está
presente em toda parte e em todas as situações; vocês poderão dizer: Então, vou
ficar onde estou.”
Em certos
momentos, vivemos a ilusão de que Deus está ausente, quando na verdade, somos
nós que não estamos presentes e abertos para a realidade que é Deus. A
estabilidade nos livra dessa armadilha.
A
estabilidade me ajuda a perseverar nos momentos em que a mente quer me enganar
perguntando: “Qual o sentido de sempre repetir o mantra?” Nos momentos de
fraqueza, a estabilidade é a força. Acho que é pela estabilidade que os monges
caem e se levantam, caem novamente e se levantam.
Como sempre
repetir o mantra sem a estabilidade? Como ter a sensação de ser habitado por
Cristo sem a estabilidade?
Nas conferência de João Cassiano,
Abade Isaac diz: “tudo aquilo que nossa
alma engendrar antes da hora de oração, nos será infalivelmente representado,
pela memória, enquanto oramos. Por conseguinte, tais como desejamos ser durante
a oração, urge que sejamos também antes da oração. Pois é de nossas condições
anteriores que depende o estado de nossa alma durante a oração.”
Pela estabilidade, preparamos
nossa alma para oração. Estabilidade é viver num espirito continuo de oração.
Pela estabilidade minha vida se torna uma oração.
Então, vou ficar onde estou...
Taynã M. Bonifácio