sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O que significa Obediência?


Ao longo de décadas o homem luta por sua liberdade. A modernidade é marcada pela diversidade de escolhas possíveis e pela queda dos valores universais. Atualmente, não há clareza sobre o que se deve ser feito e de que maneira. E nesse contexto, podemos perceber dois movimentos: o conformismo e o totalitarismo.  O conformismo surge quando o homem faz o que os outros fazem, imitando comportamentos e padrões existentes. No totalitarismo, o homem faz o que os outros querem que ele faça. Contudo, o homem é um ser-livre e pode escolher seu próprio caminho.
                  A liberdade gera responsabilidade. Sartre dizia que “o homem está condenado a ser livre”.  Ou seja, o uso da liberdade exige discernimento e reponsabilidade nas escolhas.  Com a responsabilidade surge a esfera da obediência e somos livres para escolher a quem obedecer. Numa sociedade em que as instituições tradicionais perderam a força, rapidamente surgem novas opções de “direcionadores de sentido” que contribuem com o estado de conformismo e totalitarismo. Sem o despertar da consciência, as pessoas podem ser guiadas unicamente pelas empresas para as quais trabalha, pelas normas da sociedade em que vive, pelos padrões de consumo impostos e por outras variáveis.
                  O caminho da meditação levou-me ao centro do meu ser e nesse centro pude encontrar o meu verdadeiro “direcionador de sentido” e perceber o quanto os demais eram ilusórios. Então, passei a obedecer esse centro, que na verdade é Deus.  E a obediência a Deus está totalmente relacionada a escuta de Deus. A palavra obediência vem do latim obedire que tem a mesma raiz que audire (ouvir) .  O grande desafio é permanecer com a escuta ativa nesse centro.  Se não existir uma obediência constante, nossos corações podem rapidamente ser endurecidos e assim não escutamos essa voz.
A trajetória em direção a oblação me mostrou que só é possível chegar a Deus por meio da obediência. Obediência à palavra de Deus, obediência aos preceitos da Regra de São Bento, obediência ao Oficio Divino, obediência aos dois períodos diários de meditação, obediência a voz que encontro no meu centro... Contudo, não falo de uma obediência cega e imposta, que poderia gerar uma falsa interpretação como quando Karl Marx disse que a “religião é o ópio do povo”. Falo de uma obediência com um senso crítico e um elevado grau de discernimento, que nos faz encontrar o verdadeiro significado da “religião” (religare), ou seja, a reconexão com nosso centro e com Deus. Ao contrário do que pensamos, é nesse centro que somos nós mesmos e não na periferia do ego. Para alguns, falar que meditamos para escutar e fazer a vontade de Deus pode parecer uma forma de alienação, mas isso só acontece quando identificamos nosso eu e nossa identidade com o nosso ego. Ao chegar no centro, percebemos que se identificar apenas com essa periferia externa do ser chamada ego é viver o Eu de forma parcial e superficial. O Eu em sua totalidade e profundidade só pode ser vivido a partir desse centro.
                  São Bento dizia que a obediência é o primeiro degrau da humildade.  Todas as vezes que obedeço apenas a minha vontade sei que estou longe desse centro e movida por interesses próprios e egoístas. Toda vez que considero os outros e transcendo meu ego, sei que estou sendo obediente à Deus.  A obediência perfeita é aquela feita com alegria, sem demora e sem murmuração.  Escutar, renunciar à vontade própria e obedecer a Deus exige humildade. E o grande exemplo disso é Cristo, o verdadeiro oblato.
                  Para mim, o ponto crucial é que a obediência não se restringe a escuta, ela se concretiza com ações. Precisamos da contemplação para desenvolver a escuta e precisamos da ação para colocar no mundo o que escutamos de Deus. Temos que ser obedientes a palavra e a vontade de Deus. Com obediência precisamos ouvir a pergunta que Deus nos coloca a cada dia e com obediência precisamos dar essa resposta ao mundo. É um caminho em direção ao centro e de expansão ao outro.  Thomas Merton dizia:
“Quero o que Deus quer para mim em cada instante é o que me mantém em contato com esse centro; essa realidade é a vontade de Deus e exige uma resposta. Isso deve orientar as minhas opções. Devo permanecer em constante relação com esse centro de liberdade.”
                  A meditação me dirige a esse centro de liberdade onde encontro Deus, a obediência me dá disciplina para permanecer nele, a escuta à Deus me fez buscar a oblação e a decisão de ser oblata é minha resposta ao mundo.

Taynã Malaspina Bonifácio

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