sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O que significa Conversão?


Para falar sobre o significado de conversão é válido resgatar o meu caminho até a decisão de se tornar oblata. Sou de uma família católica e sempre tive grandes exemplos de fé em minha casa. Desde pequena participei das atividades da igreja local e lembro das missas aos domingos com os meus pais. Contudo, por volta dos 23 anos, tive uma certa crise com a igreja católica. Achava algumas pessoas da comunidade incoerentes e me sentia distante de Deus. Além disso, sentia falta de uma dimensão mais contemplativa na minha vida espiritual. Foi nesse período que iniciei a busca pela meditação e a encontrei no Budismo.
Frequentei o Budismo por 2 anos e nesse período me encantei com a prática meditativa. Achava maravilhoso o conceito do Bodisatva, atingir a iluminação para ajudar aos outros e libertar os seres do sofrimento. Todavia, ainda faltava algo... A filosofia budista era muito rica, mas não existia a figura de Cristo e a visão espiritual era um pouco distante da que acreditava. Então, encontrei a Meditação Cristã e posso dizer que a partir desse encontro iniciou-se meu processo de conversão. Foi a abertura para uma nova fase da minha vida, repleta de sentido e significado.
Vale ressaltar que essa busca iniciou-se por interesses pessoais e até egoístas, queria conhecer a mim mesma com maior profundidade.  E no caminho, percebi que o conhecer a si mesmo está totalmente ligado ao conhecer a Deus. Sinceramente, não sei quem vem primeiro, é uma busca e um encontro totalmente integrado entre o Eu e Deus.  Pela meditação, descobrimos que somos um com Deus.
Esse processo de conversão foi um grande período de aprendizado. Primeiro, entrei em contato com aspectos do meu ser que ainda não tinha consciência e aprendi a aceitar o que gostava e o que não gostava. E depois de formar a imagem de mim mesma, descobri que tinha que deixar o meu Eu para trás para ir ao encontro verdadeiro com Deus. É preciso deixar as imagens para trás, coloca-los na nuvem do esquecimento, para tentar atingir a nuvem do não-conhecimento com ajuda da graça de Deus. A conversão me ensinou a experimentar Deus por meio do amor ao invés de conhecer Deus por meio da sabedoria e conhecimento . E nesse trajeto descobri aquilo que fui chamada a ser. E como John Main disse: 
“Quando meditamos, nós não apenas nos afastamos das operações individuais do nosso ser, mas começamos a aprender a encontrar uma base completamente nova sobre a qual nos sustentar. Descobrimos uma raiz do nosso ser que não está apenas em nós, porque nos descobrimos enraizados em Deus, que é Amor.”
Ser oblato exige o compromisso de ser sempre um peregrino, vivendo uma conversão continua do meu modo de vida. A conversão nos leva ao centro e a Deus. A conversão exige a prática ao desapego e abertura para o novo. Com a conversão, enxergo cada dia como uma folha em branco, com Deus esperando que eu escreva o que realmente importa e é essencial. O voto da conversatio morum traz a exigência da continua transformação. Cada momento é simbolizado como morte e ressurreição, desapego ao passado e abertura ao novo. A conversão traz a plenitude do momento presente.
                  Com a conversão, a todo momento me pergunto: O que faria Cristo em meu lugar? Pela conversão, passamos a viver a partir de um novo centro, o nosso centro enraizado em Deus. A cela, o claustro torna-se meu coração. É para lá que tenho que voltar todos os dias, todas as horas.
                  E conversão exige novos hábitos: é preciso reorganizar a agenda para se dedicar aquilo que realmente importa, é preciso refletir sobre o que tenho dedicado tempo, é preciso fazer um inventário das minhas prioridades de vida, é preciso ter claro o que quero deixar no mundo, é preciso ir além dos interesses próprios e das vontades do ego, é preciso encontrar o sentido a cada momento, é preciso escutar a Deus.  Lembro-me de uma frase de Fernando Pessoa que simboliza muito o espirito da conversão:
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”
Posso dizer que o noviciado foi o período dessa minha travessia, da trajetória da margem em direção ao centro , do abandono das roupas velhas e da abertura a novos caminhos.  Novos caminhos de amor...

Taynã Malaspina Bonifácio

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