domingo, 20 de fevereiro de 2011

Jung e o mundo espiritual (Por Leonardo Boff)

ALAI, América Latina en Movimiento- alainet.org 13. Nov. 2009


Coordenei junto à Editora Vozes a tradução da obra completa do  psicanalista C.G. Jung, o que o tornou um dos meus principais interlocutores intelectuais. Poucos estudiosos da alma humana deram  mais importância à espiritualidade do que ele. Via na espiritualidade uma exigência fundamental e arquetípica da psiqué na escalada rumo à plena individuação. A imago Dei ou o arquétipo Deus ocupa o centro do Self: aquela Energia poderosa que atrái a si  todos os arquétipos e os ordena ao seu redor como o sol o faz com os planetas. Sem a integração deste arquétipo axial, o ser humano fica manco e míope e com uma incompletude abissal. Por isso escreveu:

“Entre todos os meus clientes na segunda metade da vida, isto é, com mais de 35 anos, não houve um só cujo problema mais profundo não fosse constituído pela questão da sua atitude religiosa. Todos em última instância estavam doentes por terem perdido aquilo que uma religião viva sempre deu, em todos os tempos, a seus seguidores. E nenhum curou-se realmente sem recobrar a atitude religiosa que lhe fosse própria. Isto está claro. Não depende absolutamente de uma adesão a um credo particular, nem de tornar-se membro de uma igreja, mas da necessidade de integrar  a dimensão espiritua
l.”

“O Silêncio da Alma”


Laurence Freeman OSB para o THE TABLET de 10 de Maio de 1997.
Tradução de Roldano Giuntoli

Um motivo pelo qual o silêncio nos é tão perturbador [é este]: Assim que começamos a nos tornar silentes, experimentamos a relatividade de nossa mente comum cotidiana. Com essa mente medimos nossas coordenadas de espaço e de tempo,calculamos as probabilidades e contabilizamos nossos erros e acertos.  Trata-se de um nível de consciência muito útil e importante.  É um estado mental tão útil e familiar que, facilmente, acreditamos seja tudo o que somos: a totalidade de nossa mente, nosso verdadeiro eu, nossa inteira significação.

A vida, o amor e a morte, frequentemente nos ensinam o contrário.  Nos encontramos inesperadamente com o silêncio, em muitas reviravoltas inesperadas da estrada da vida, de maneiras imprevisíveis, em pessoas improváveis.  Sua saudação possui um efeito que é, ao mesmo tempo, emocionante, pleno de maravilhamento, ainda que, frequentemente apavorante. 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Chegar ao nosso próprio centro...


John Main OSB, O MOMENTO DE CRISTO 
Tradução de Roldano Giuntoli

Para cada um de nós, o propósito da meditação é o de chegar ao nosso próprio centro.  Muitas tradições descrevem a meditação como uma peregrinação: uma peregrinação ao seu próprio centro, a seu próprio coração, e ali você aprende a se manter acordada(o), viva(o) e quieta(o).  A palavra “religião” significa “reconexão”, estar “religado” a seu próprio centro. O que importa na meditação é a descoberta, por experiência própria, de que há apenas um centro, e de que a tarefa de vida, para todos nós, é a de encontrarmos nossa fonte e nosso sentido por meio do descobrir e do viver, a partir daquele centro único.
Penso que o que precisamos compreender é que voltar ao nosso centro, descobrir nosso próprio centro, é a primeira tarefa e é a responsabilidade primeira de toda vida que se destina a ser plenamente humana.  Mais uma vez, na meditação, na disciplina dela, você descobrirá, por experiência própria, que se unir com seu próprio centro significa se unir com o centro de todos.
O ser humano verdadeiramente espiritual é aquele que está em harmonia, que descobriu aquela harmonia dentro de si, e vive essa harmonia com a criação e com Deus. A meditação nos ensina que estar em seu próprio centro, é estar em Deus.  Este não é apenas o maior ensinamento de todas as religiões orientais, mas, trata-se do entendimento fundamental do Cristianismo.  Com as palavras de Jesus: “O Reino de Deus está no meio de vós”.   E, nos ensinamentos de Jesus, o Reino é uma experiência.  Trata-se de uma experiência do poder de Deus.  Trata-se de uma experimentação com a energia fundamental do Universo.  E, mais uma vez, na visão de Jesus, compreendemos que esse poder fundamental, a partir do qual somos convidados a viver nossas vidas, é o amor.

Medite por Trinta Minutos.... Lembre-se: Sente-se.  Sente-se imóvel e, com a coluna ereta. Feche levemente os olhos. Sente-se relaxada(o), mas, atenta(o).  Em silêncio, interiormente, comece a repetir uma única palavra. Recomendamos a palavra-oração "Maranatha". Recite-a em quatro silabas de igual duração.  Ouça-a à medida que a pronuncia, suavemente mas continuamente. Não pense, nem imagine nada, nem de ordem espiritual, nem de qualquer outra ordem. Pensamentos e imagens provavelmente afluirão, mas, deixe-os passar.  Simplesmente, continue a voltar sua atenção, com humildade e simplicidade, à fiel repetição de sua palavra, do início ao fim de sua meditação.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Retire-se: Reserve um tempo só para você e aproveite as surpresas que um retiro pode trazer


Fonte: Revista Vida Simples

Antes de começar a ler esta reportagem, queria convidar você a fazer um exercício. Experimente ir para um canto tranqüilo onde ninguém incomode por um tempo. Desligue o celular e certifique-se de que o lugar não seja barulhento. Leve papel e caneta. Preparado? Então vamos lá. Escreva no papel uma lista das coisas que você tem que fazer e que o estejam preocupando. Pense nos pepinos da casa, nas contas a pagar, nas tarefas do trabalho, nos desentendimentos dos seus relacionamentos, não deixe escapar nada. Pensou? Agora liste as situações que já aconteceram e que continuam atormentando por terem ficado mal resolvidas em algum canto lá no passado. O arrependimento por ter dito aquilo a um parente, o resultado do exame, tudo. Pronto? Certo. Se você fez a lista a sério, estão aí, na sua frente, todos os motivos para suas preocupações. Nesse papel está o conteúdo da maioria dos seus pensamentos. Bom, o exercício começa agora. Olhe bem para a lista e imagine dar férias de um dia para essas pendências. Sim, eu sei que são todas coisas muito importantes, que você não pode ignorar. Você vai voltar a elas, sim, mas só depois de amanhã.


Pare um pouco. Sinta como é ficar livre, mesmo que por um instante, de todas essas preocupações. Que tal? Sem as pendências, o que sobra em você, o que fica? Bem, o que fica é... você. Isso mesmo. Essa é a grande descoberta de quem resolve dar um tempo e jogar as perturbações do cotidiano para escanteio: entrar em contato imediato consigo mesmo. Afinal, se nossa mente fica o tempo inteiro conectada às coisas que estão fora da gente, não damos nenhuma chance para nos observarmos internamente. Os retiros de meditação servem exatamente para isso: abrir uma brecha nas preocupações com o mundo para se preocupar com você.