domingo, 15 de maio de 2011

Um dia no mosteiro... (Por Taynã M. Bonifácio)

No final de semana passado, tive a oportunidade de visitar o Mosteiro do Encontro em Mandirituba (PR). Um lugar realmente repleto de paz e de pessoas especiais. O interesse em visitar o mosteiro foi iniciado pela indicação de meu amigo Mauro. Ele já havia visitado o local algumas vezes e sempre voltava radiante e comentava sobre uma monja chamada Madre Chantal. Ele dizia: “Taynã, se tiver oportunidade, vá a esse mosteiro e conheça a Madre Chantal. Ela é uma das pessoas mais sábias que já conheci na vida.”
Então, fiquei com isso na cabeça e quando surgiu a oportunidade fui com o meu marido. A própria experiência de vivenciar a rotina de um mosteiro já é algo único. Lá o tempo segue outro ritmo e toda atmosfera é permeada por um espírito de amor.
No mosteiro, o verdadeiro sentido de comunidade é aflorado. As monjas tem um carinho e atenção pelos hóspedes que é difícil de encontrar em outros lugares. Na correria do nosso dia-a-dia, passamos pelas pessoas sem nos dar conta da sua presença e de suas necessidades. Muitas vezes, moramos anos em um mesmo local e não sabemos o nome de nossos vizinhos. Lá, é diferente... Elas sempre estão preocupadas com o outro.
Um outro ponto interessante é a questão do Statio. Statio é a prática de parar uma coisa antes de começar outra. É o tempo entre os tempos. É como na música, só conseguimos vivenciar a melodia, quando existe a pausa de uma nota para outra.  A pausa é necessária para estarmos plenamente presentes no que estamos fazendo. E isso pode ser tanto para as grandes coisas, quanto para as “pequenas”...Precisamos de uma pausa antes de começarmos uma reunião, precisamos de uma pausa antes de conversarmos com um amigo que está passando por uma situação difícil, precisamos de uma pausa antes de tomar uma decisão, e por aí vai...Muitas vezes, levamos nossa vida como uma sequência infindável de notas que só geram barulho e assim não percebemos a melodia.
O silêncio também fica evidente no mosteiro. E o silêncio assusta muita gente. Basta ver a quantidade de coisas que fazemos com a TV ligada, só para não ficarmos em silêncio. O silêncio assusta porque ele nos deixa à mercê do barulho interior. Escutamos nossos medos, angústias e insatisfações.  Como diz Joan Chittister: “Escutamos os temores que precisam ser enfrentados, escutamos a raiva que precisa ser acalmada. Escutamos o vazio que precisa ser preenchido.” Ainda com frases dela: “O silêncio nos convida a profundidade. O silêncio cura aquilo que a acumulação e a fuga não tocarão.” Contudo, a vida sem espaço para o silêncio não é vida.
A rotina no mosteiro demonstra a importância do equilíbrio. O equilíbrio entre o mundano e o sagrado. O equilíbrio entre o trabalho e a oração, entre o cuidar de si mesmo e o cuidar dos outros... É muito difícil termos um equilíbrio nos dias atuais, ou estamos muito focado no trabalho, ou na família, ou nos estudos, ou nos problemas, ou na religião.  E focar excessivamente em qualquer um desses itens acaba causando alienação e insatisfação. Diz um provérbio: “Onde quer que haja excesso, alguma coisa está faltando.” Para viver a vida em sua integralidade, é preciso ter equilíbrio entre as coisas.
Isso é só um pouco do que um dia e meio naquele lugar me fez enxergar. Ele também me mostrou importantes lições sobre humildade, trabalho, família e muitas outras coisas.
No mosteiro, as monjas vivem no clausura, contudo fui presenteada com a oportunidade de conversar com a Madre Chantal.  Passei cerca de uma hora conversando com essa mulher de 93 anos, dona de uma sabedoria e simplicidade (Abrindo um parênteses, uma união difícil de se encontrar fora dos mosteiros). A conversa foi muito rica e ficará guardada para sempre em minha memória, assim como o sorriso e o olhar penetrante dessa senhora.
Vale a pena destacar dois pontos de nossa conversa. Um deles foi quando perguntei à ela: “Como é ter uma vida inteira dedicada à Deus?” E ela disse: “Não tem diferença. Acho que muitas mães de família e donas de casa são muito mais próximas de Deus do que eu.” E a outra pergunta foi: “Para a senhora, o que é felicidade?”. E ela me disse: “É a união com Deus.”
Essas pequenas frases são repletas de significado e dizem muito sobre os poucos dias que passei no mosteiro.  Quem tiver oportunidade, aconselho vivenciar essa experiência e é claro conhecer a Madre Chantal.

Mais informações:
http://www.mosteirodoencontro.org.br/

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