segunda-feira, 14 de março de 2011

Leitura Semanal : Meditação Cristã


Laurence Freeman OSB, COMMON GROUND: Letters to a World Community of Meditators (New York: Continuum, 1999), pgs. 104-105.
Tradução de Roldano Giuntoli

O grande risco que assumimos na meditação é, antes de mais nada, o de sermos nós mesmos.  Este é o primeiro passo.  Se não déssemos o correspondente próximo passo, jamais nos moveríamos de onde estamos; estaríamos saltando em uma só perna toda a nossa vida.

 O próximo passo é o de assumirmos o risco de deixar que os outros sejam eles mesmos.  A maneira de fazermos isso é percebermos que a realidade deles é distinta da nossa.  E, percebê-los como reais é amá-los.  Iris Murdoch escreveu certa vez que “o amor é a percepção do indivíduo”.  Ela seguiu dizendo, “O amor é essa compreensão, extremamente difícil, de que algo além de nós mesmos é real.  O amor e, assim também, a arte e a moralidade, é a descoberta da realidade.  O que nos choca, nessa compreensão de nosso destino supersensitivo, é uma indizível particularidade.

A grande ação da contemplação é a de voltarmos nossa atenção para além de nós mesmos, na direção da realidade maior “fora de nós” que nos contém.  É a mesma ação da contemplação, qualquer que seja a maneira como a consigamos: nos relacionamentos, na arte, no serviço e, na prece.  Certamente, uma maneira fundamental de fazê-lo, é a de aprendermos a meditar, uma arte cujo aprendizado leva toda uma vida.  Todavia, isso não se limita ao próprio trabalho da meditação.  Meditar é aprender a viver contemplativamente em tudo o que fazemos.  Santo Antão do deserto, certa vez, exortou seus discípulos a: “sempre respirar Cristo”.

As pequenas coisas guardam grandes mistérios.  William Blake falava da santidade da “diminuta particularidade”.  Como uma prática espiritual diária, a meditação logo se torna uma maneira de viver, na qual a nossa atenção às pequenas coisas expande o horizonte de nossa percepção, e as riquezas de nossa existência.  A discrição, grande virtude da tradição do deserto, cresce em nossos julgamentos e relacionamentos com os outros.  Com a discrição vem a sabedoria do equilíbrio e da moderação.  Faz-se necessária uma forte energia compensatória, para corrigir uma vida que foi empurrada para fora do ponto de equilíbrio, e se desloca de um extremo, uma crise, ao outro.

Como um fruto espiritual da meditação, a discrição é uma força extremamente poderosa que é capaz de fazer isso.  Ela nos mantém centrados, em meio às tormentas e às tragédias.  Com o tempo, aprendemos a não abrir mão da meditação, quando os problemas da vida se tornam muito difíceis.  Aprendemos que se pode meditar até mesmo numa prisão, quando a vida pode parecer ter terminado.   Passamos a sentir os efeitos da meditação em todas as experiências com que a vida nos confronta: como lidar com os problemas do coração (apaixonar-se, desapaixonar-se), como enfrentar o ciúme, ou a avareza (em si e nos outros), como viver com seu espinho na carne.

A mentalidade contemplativa, que a meditação gradativamente cultiva, torna-se nosso estilo de vida habitual.  Isso não diminuirá nossa energia, ou nosso amor pela vida.  De fato, ela nos energizará, fazendo com que a vida pareça mais maravilhosa.  Como exemplo, se reduz a vasta quantidade de energia que podemos gastar para chegar a simples decisões.  Os problemas que nos ocupam, o fazem por menos tempo.  A angústia da escolha se dissolve na ação da atenção.  [E] quando olhamos claramente, enxergamos realmente...

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